Dreams are renewable. No matter what our age or condition, there are still untapped possibilities within us and new beauty waiting to be born.

-Dale Turner-

sábado, 11 de dezembro de 2010

Nous aurons pour nous l'éternité



Bom gosto da flor.

   Era o dezembro mais estranho que ela já tinha visto. Noites chuvosas, dias quentes. A exceção daquele. O sol quis aparecer, teimoso em meio a tantas nuvens. A menina de cabelos cacheados estava deitada no sofá da sala quando resolveu que hoje não ficaria em casa remoendo lembranças antigas. Levantou, calçou seus tênis, procurou os óculos escuros, apanhou a coleira do cachorro e saiu pra um pequeno passeio. Caminhou até a praça próxima de casa e deixou que o animal, que hoje era sua única e mais fiel companhia, corresse um pouco. Ela se sentou embaixo de uma arvore e começou a sentir o vento morno que corria. Olhando aquele cenário, sentindo aquele ar e aquelas cores, ela percebeu que todas as lembranças, que ela havia tentado deixar trancadas dentro do apartamento, sabiam o caminho daquele lugar.
  Com o final da tarde, veio a chuva fina típica daquela estação. Ela ficaria ali se refrescando por muito tempo se não tivesse se lembrado que havia deixado a janela da sala aberta. Chamou o cão e refez o caminho até em casa. Aquela chuva tinha feito bem aos dois, voltavam para casas um tanto mais felizes, ou menos tristes.
  Quando a porta do elevador abriu, o cachorro correu e pulou alegre no colo de uma menina que estava sentada no chão e encostada na porta de entrada da sua casa.
 - Oi, Amorzinho! Você não me esqueceu, não é? IIh você ta todo molhado... – Ela parou de falar e olhou pra cima, para os olhos surpresos da outra. Ela estava parada, inerte e molhando todo o corredor. Sem saber o que pensar, ela estudava cada pedaço do corpo que um dia conheceu. Os cabelos escuros mais curtos, não brilhavam como antes. Ela estava sem maquiagem e mais magra. Mas o que mais incomodou foram os olhos, eles estavam tristes... Muito tristes.
  Ela caminhou até a porta devagar, abriu e ficou esperando até que a outra se levantasse e entrasse. Quando ela passou pela porta pode ver seus olhos brilharem. Ela trancou a porta e passou direto até o banheiro. Apanhou duas toalhas secas. Colocou uma no chão, onde o cachorro se deitou, e começou a secar os cabelos com a outra devagar, numa tentativa de se dar tempo pra pensar no que fazer.  Trocou a roupa molhada, sentou na cama por alguns segundos, fechou os olhos e respirou bem fundo, tomou toda a coragem necessária e voltou pra sala. Sentou no sofá e ficou observando a outra que caminhava entre os móveis, tocando um e outro objeto com carinho. Olhou pra trás sorriu e disse:
  - Senti saudade de tudo isso sabia? Está tudo nos lugares onde eu me recordo, menos as nossas fotos. – As últimas palavras foram ditas em notas um pouco mais tristes.
 - Você realmente pensou que as encontraria no lugar?
- Na verdade eu esperei encontrar outras... – ela se sentou a uma distância razoável.
- Talvez fosse melhor, mesmo.
- Isso eu não sei, na verdade.
  Houve alguns segundos de silêncio, em que ela sentiu raiva. Questionava como as pessoas conseguiam fazer isso. Ir embora, voltar tempos depois como se nada tivesse acontecido. Parecia um tanto cruel. Ela havia sofrido muito com tudo isso, ainda doía. Toda a mágica de antes tinha virado tragédia e ela sabia que a culpa não tinha sido dela. Era a outra quem tinha perdido e ela teve tempo pra pensar, ir se preparando pra se caso esse dia viesse a acontecer. Mas de repente ela percebeu que de nada havia valido. Ela estava lá desarmada, tinha esquecido tudo o que tinha pra dizer.
- Por que... O que você veio fazer aqui? As coisas que você deixou estão guardadas, pensei que talvez você fosse querer buscar, mas eu poderia ter mandado pelo correio...
- Não. Não foi por elas que eu voltei. – Olhou fundo nos olhos da outra, esticou a mão tentando alcançar a dela, mas ela se levantou, deu um passo pra trás e cruzou os braços enquanto acusava a outra com os olhos.
 - Será que tem mais alguma coisa pra você? Achei que você tivesse levado tudo o que realmente precisava quando passou por aquela porta há uns meses atrás.
- Tenta entender, por favor.- Ela tinha fechado os olhos - Eu cometi um erro, mas eu fui atrás de um sonho. Eu reconheci o meu erro quando entrei naquele ônibus e quis voltar, mas ai já era tarde. Eu resolvi apostar e perdi.
- Pelo o que sei, você tinha casa no Rio, estava bem empregada.- A outra olhou surpresa e ela corou um pouco. Não queria que ela pensasse que ela esteve preocupada demais com o bem estar dela. – Pois é, as pessoas se preocuparam esses meses todos em me contar sobre a sua vida maravilhosa.- E deu de ombros.
- Mas eu perdi, perdi a nossa casa, perdi o nosso cachorro, perdi o seu amor, perdi você...
- Foi porque você quis assim! – Disse entre lágrimas num tom bem mais alto. – Eu não te mandei sair. Você deve achar justo voltar agora que eu resolvi apagar as suas memórias que me atormentaram todos os dias. Você é bem grandinha pra saber o quanto dói aqui, o quanto eu lutei do seu lado por tudo isso aqui e mesmo assim foi embora sem ter nem a decência de me olhar nos olhos, deixando um bilhete de desculpas?
  A outra abaixou a cabeça nos joelhos e começou a chorar, um choro sentindo daqueles que agente sabe que esteve guardado muito, muito tempo. A raiva se dissipou vendo aquela cena. Tinha tempo que ela não a via chorando, mas por algum motivo, agora doía muito mais.
- Desculpa, eu não tinha direito de te fazer reviver tudo isso. Tem muitas coisas que eu nunca te disse... Depois de tudo isso, eu ainda sinto sua falta. Eu nunca devia ter ido embora amando você como eu amava e ainda amo. Só não tenha raiva de mim... – Não pode mais falar, a voz foi embargada pelo choro. Ela se levantou e tomou o caminho da porta.
Vendo-a partir, teve pouco tempo pra pensar. Poucos segundo pra muitos sentimentos distintos: Confusão, descontrole, perda... Deu dois passos rápidos e segurou-a num abraço.
- Não! Eu não suportaria ver você indo outra vez. Eu ainda sinto raiva, mas meus outros sentimentos me ensinaram que amor de verdade não se impede de sentir isso também. Por favor, fica. Fica e não se perde de mim outra vez. Eu... Eu te amo!
  Ela se virou e segurou o rosto da mulher que amava com as duas mãos e a beijou. Um beijo com gosto de saudade, com gosto de retorno, com gosto da certeza de que o que não tem que acabar simplesmente não acaba.

10 comentários:

João Vitor Fernandes disse...

E que não tem que acabar simplismente não acaba! Adorei isso, quantas pessoas se perdem umas das outras por orgulho, por achar que não da pra tentar denovo. Esse medo se de se machucar de dar tudo errado é que causa tanta solidão no mundo. Perdoar aos que amamos é um dos gestos mais nobres que existem.

bjs Aninha!!
saudades.

Stripped & Raw disse...

concordo com o jão. O medo atrapalha e afasta as pessoas...

mto lindo, flor!

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Gostei muitoo do texto..bem detalhista.
Mas ainda acho que as pessoas sao livres para ir e vir..
Porem elas nao sabem ir para vir..
Pois ninguem eh de ninguem.

PS; nao eh pq vc perdoou que o sentimento de tristeza, raiva e magoa vai deixar de existir..
Mas eh isso. Saudades nega

joyce Pretah disse...

amei o texto e a trilha que casou muito bem .

os detalhes me fizeram estar na cena e entender o que se passava com o casal..uma situação que pode acontecer com todos.

sempre é tempo de tentar de novo....
sempre é tempo de perdão e recomeço.


bjks^^

..estou gostando do rumo que o blog esta tomando,cada dia melhor.

Xael disse...

por mais que lutemos nao tem como o amor acabar, se é de verdade pode enfraquecer, diminuir, mas nunca tera um fim, infelizmente descobri isso a pouco tempo. mas correr atras de seus sonhos e ainda se arrepender de td que deixou pra tras, e ter a coragem de voltar e tentar reconquistar o seu amor, tem que ter muita coragem e saber a hora certa de reconhecer o erro, nunca é tarde de mais pra amar e voltar atras. mas corajosa foi a outra moça que mesmo ferida e magoado pelo abandono, nao deixo que o seu amor passasse pela porta e fosse embora pela segunda vez, tem que ser muito forte pra perdoar e saber qual é a hora de aceitar que o amor é um so, e que nao importa quanto tempo passe, se vc ama de verdade sempre haverá uma esperança e o perdão é possível..

obrigado por tao belas palavras como sempre estou a delirar com um texto tao bom.. bjs

João Vitor Fernandes disse...

Ei meu bem, tem um selo la no Coisas de Jão para seu Blog. Espero que goste. Abraços.

Daniel Savio disse...

Mesmo com a tristesa inicial, acabou sendo um final feliz, ou pelo menos o inicio para se lutar por ele...

Fique com Deus, menina Ana Cecília.
Um abraço.

Viviane Moraes disse...

O medo muitas vezes atrapalham, fazendo com que tome atitudes erradas e nos fazem voltar atrás..


Beeijos *-*
Fica com Deus flor !!

Daniel Savio disse...

E feliz ano novo menina =P

Fique com Deus, menina Cecilia.
Um abraço.

Postar um comentário