...
O inverno tinha chegado tão frio... A moça com os cabelos presos sentada no sofá finalmente havia conseguido parar de chorar, mas os olhos continuavam muito vermelhos, perplexos, penetrados no nada, na escuridão do apartamento que, de pequeno, tornou-se uma imensa solidão. Não sabia há quanto tempo estava ali, nem mesmo sabia se um dia ia querer levantar e aceitar a nova realidade que lhe havia sido imposta.
Fechou os olhos amassou nas mãos a injusta carta, as covardes linhas que continha meia dúzia de explicações que jamais poderiam suprir a necessidade de ouví-las bradadas aos quatro cantos daquela sala. Atirou-a no chão e, na tentativa de abafar o grito de dor que vinha de dentro, levou os punhos cerrados à boca. Seus olhos azuis agora eram mares de dor e deles escorriam o desespero de não saber estar só.
Sem forças, ela se deitou. Despida de vergonha ou orgulho, deixou seu corpo cair no vazio dos próprios medos. E com a única força que havia restado, suspirou “Ela não vai mais voltar...”.