Dreams are renewable. No matter what our age or condition, there are still untapped possibilities within us and new beauty waiting to be born.

-Dale Turner-

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Mais dans ma vie y a plein d'printemps.



 Eu tenho infindáveis sonhos que hoje parecem me perseguir. Sonhos dos quais não abro mão e ainda assim me escravizam, apontando o caminho e sublinhando os obstáculos, que por mais simples que pareçam ser se fazem intransponiveis, quase assustadores... Sonhos que hoje divido e dobram de peso a cada passo não dado. Ah, mas eu não os temo! Sonho novos sonhos todas as manhãs e os cultivo, mais do que com amor, com coragem, porque sei que o que difere fracos de fortes é a capacidade de enfrentar as própria quiméras.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Après nous


    O sábado estava frio, faltava luz no dia e as palavras pareciam ecos distantes. A visão estava turva, confusa... E ela ia refazendo os passos até em casa. Sentia que iria embora, mas antes havia coisas a serem ditas, palavras acinzentadas e coloridas que ela guardava no peito e que iam ganhando forma à medida que caminhava.
  Subiu até o sexto andar pelas escadas, tentando ganhar tempo e com ele coragem pra se despedir. A porta estava aberta como havia deixado ao sair sem olhar pra trás. Passou por ela com passos nem tão seguros, com medo do que veria lá dentro. Na sala, outra garota de vinte e poucos anos sentada numa cadeira em frente a uma enorme porta de vidro cujo reflexo permitia ver olhos inchados e avermelhados enxergando sem ver tudo o que havia lá fora num mundo de coisas não palpáveis.
  Ver aquele rosto entristecido era para ela como sentir cortar a própria carne e foi impossível controlar as lágrimas. Ela esticou o braço, pensando em tocar o ombro que muitas vezes havia lhe cedido aconchego a noite, mas algo em sua cabeça fez com que mudasse de idéia. Ela nem sabia mais o porquê de terem brigado, só sabia que não fazia sentido. Todo o texto preparado sumiu da mente, era melhor falar com o coração que parecia bater cada vez menos, falar logo...  
  - Eu voltei pra casa me perguntando como chegamos até aqui, o porquê de chegarmos até aqui... Os dias estão difíceis e me peguei pensando na tristeza das coisas que terminam, mas descobri que isso é uma grande e terrível mentira. – A outra continuava olhando impassível pela janela e ela respirando fundo, tomando fôlego pra terminar – Olha, eu sempre te amei, sempre fui sua e minha vida sempre esteve entrelaçada aos seus passos profundamente. É uma pena que isso tenha que se desfazer agora. Eu queria poder fazer você esquecer cada palavra minha que tenha te ofendido e soubesse que daria tudo para tê-las escolhido com mais carinho. Queria ter poder pra fazer sobrar na sua memória só as coisas boas que pudemos viver até aqui, mas sei que as paredes dessa casa vão tratar de fazê-lo por mim. Eu vou agora, ficar não adianta mais nada. E mesmo que eu caminhe sem você por lugares que eu desconheça, vou te guardar... Vou te levar...
 Os restos das palavras se engasgavam em meio às lágrimas que agora inundavam aquele rosto. Ela se sentou de costas para a parede com as pernas encolhidas e se deixou chorar por um tempo em busca de uma calma que nunca veio.
  O telefone tocou uma, duas, três vezes até que a menina de olhos tristes resolveu se levantar. Tirou-o do gancho sem pressa, e sua voz saiu baixa, num “alô” tão infeliz quanto seu rosto parecia estar. A conversa prosseguiu por pouco tempo, alguém do outro lado do telefone a havia assustado tanto que seu rosto perdeu a cor, seus olhos agora tinham perdido a vida e o telefone tinha escorregado pelas suas mãos. Saiu correndo pela porta aberta, desceu todos os degraus tão rápido que pareciam não estar ali, ganhou a rua com igual velocidade e no fim dela uma pequena multidão.
Dentro de sua cabeça as passadas eram feitas em câmera lenta e os pensamentos de misturavam, pesadelo, desespero, esperança...

“A morte de um ente querido é uma coisa estranha. É como subir as escadas para o seu quarto no escuro e achar que tem mais um degrau... quando não tem. O seu pé afunda no ar e acontece um breve momento de grande susto.” Lemony Snicket.