Dreams are renewable. No matter what our age or condition, there are still untapped possibilities within us and new beauty waiting to be born.

-Dale Turner-

terça-feira, 24 de novembro de 2009

24 de Novembro


Ainda me lembro bem daquela segunda feira. A luz entrava pelas folhas e iluminava aquela praça, tão conhecida por mim, de um jeito único. Sempre que o brilho a emoldurava assim eu me lembrava de alguma passagem de ‘Doce Novembro’. Curioso, era mesmo Novembro... 24 de Novembro... O vento vinha leve e morno como é típico da estação do ano e havia flores de tantas cores... Mas nada era mais lindo que ela. Os olhos tímidos voltados para frente e ela se sentava como uma criança com as pernas cruzadas, a fala doce... O cabelo caindo pelos ombros e o rosto que eu me contive pra só tocar na hora certa... Ela falava e eu me surpreendia com as palavras e a certa altura eu já a deixava falar sozinha. Eu me lembro de tantos pensamentos: “Aonde é que ela esteve antes?”, “O que é isso dentro de mim?”, “Qual o nome daquela outra mesmo?”. As vezes ela parava, sorria e olhava pra mim brevemente. Eu tremia e alguma coisa nela me puxava , sorria de volta e abaixava os olhos. Mas ai já estava um centímetro mais perto. Numa hora em que as palavras tornaram a ralear e ela tornou a me olhar não havia sorriso nos lábios. Havia brilho nos olhos e talvez desejo. Eu não tinha mais nenhuma pergunta na cabeça, tudo o que me detinha estava vencido. Aquele rosto, aquela pele... A minha boca parecia arrastar o resto do corpo até ela. Lembro de ter mantido os olhos abertos com medo de que a qualquer momento ela levantasse e fosse embora correndo, mas para a minha surpresa os olhos dela se fecharam antes dos meus e os lábios dela estavam quentes. Foram alguns segundos de algo que até hoje não sei descrever bem. Só sei que não me sentia tão viva havia muito tempo. E quando finalmente consegui tirar meus lábios dos dela, eu me prendi em seus olhos me afastando devagar... A partir daquela hora eu já não era mais a mesma e aquele momento ficou parado em algum lugar do tempo sem poder ser apagado. Eu nunca consegui esquecer aqueles olhos negros, grandes e vivos... Eles sempre foram o que eu mais gostei nela. E relembrar cada um desses detalhes ainda trás o gosto daquela boca até mim e, ainda que as vezes doa, eu trocaria a eternidade por aquela manhã, por aquele 24 de Novembro.