Deitada naquela cama, ela parecia uma garotinha agarrada aos muitos travesseiros. Ela os usava pra preencher os espaços enormes deixados por um outro corpo. Os espaços que tornavam aquela cama grande demais para que se deitasse sozinha.
Os olhos castanhos fora de foco pareciam ver algum lugar no passado. Aquele numa sexta feira, sol poente, a janela do carro aberta, cabelos castanhos brincando no vento, um sorriso lindo e uma canção qualquer.
Ás vezes pensa que deixou de ser tudo o que desejava, que não sentia dor ou saudade porque sua alma não estava mais com ela havia um tempo. Tinha ido pra longe, devolver todos aqueles sentimentos. Pra ela, que sempre foi coração, era estranho não sentir nada, mas talvez tivesse restado a falta pra acompanhar e fosse a voz gritando em seus ouvidos que a mulher que ela ama não iria voltar.
Aos poucos, se convencia de que a porta estava mesmo fechada e a voz do outro lado do telefone nunca fosse a chamar de volta. Em alguns momentos, apertava os olhos e os travesseiros e se perguntava o porque de não se levantar e tentar trazer outra vez pra casa tudo aquilo que sempre foi tão bom, aqueceu e a levou pra tão longe... De onde ela jamais soube voltar. A resposta que vinha de sua própria boca era sempre a mesma: “talvez eu não valha a pena...”. E nessas horas ela chorava.
As feridas sempre se fecham no final das contas, mas não era isso que queria. Talvez porque soubesse que não haveria ninguém pra ocupar aquele lugar. E porque com aquela mulher tivesse sentido tantas coisas que o amor promete, pela primeira vez. Talvez porque ela ainda acreditasse que o mundo pode girar e que assim os dois corações pudessem voltar a bater no mesmo compasso. Ou por covardia mesmo.
A única certeza que carregava era a de que uma hora ela ia ter que sair daquele quarto, encarando a porta ou fugindo pela janela.