Dreams are renewable. No matter what our age or condition, there are still untapped possibilities within us and new beauty waiting to be born.

-Dale Turner-

quinta-feira, 20 de maio de 2010

C'est toi qu'il me fallait


   Ela me traz a paz de sorrir sem motivo algum e o desassossego de não tê-la por perto as vinte e quatro horas do dia. Ela olha rente a minha pele e me invade pelos olhos com facilidade que assusta. Vai arrancando deles meus segredos escondidos nos cantos escuros e colocando só o rosto dela no lugar. E aos poucos vai me mostrando que a saudade que eu carregava tinha o nome dela, antes que eu a conhecesse. Ela vai me tocando o corpo e fazendo com que me acostume às suas mãos e sinta falta de um pedaço meu quando não está aqui. Vai me tirando a prudência, aquietando os medos e fazendo esquecer das dores que eu sentia. Ela sabe fazer o mundo parar quando sorri e tornar a girar quando me beija. Ela sabe fazer faltar o ar com uma lembrança e acabar com a gravidade com duas ou três palavras. Alguém me prenda no chão! Eu estou me apaixonando outra vez...

quinta-feira, 13 de maio de 2010

C'est ton tour

 Vamos, abra os braços, feche bem os olhos e confia em mim. Balança seu corpo pra frente, deixa que ele caia devagar, eu vou estar do seu lado. O vento vai vir cortar seu corpo, mas nem mesmo ele será capaz de mudar sua direção agora. Prometo que não vai fazer diferença... O homem que espera o metrô vai continuar lá, crianças ainda vão sorrir e o sol ainda vai vir pela manhã. O caminho até o chão é curto, mas não quero que tenha medo dele. Não há como prever o que vai acontecer, só esperar que no caminho você aprenda a voar. E que o sopro quente embaixo das suas asas feitas de coragem sejam os seus sonhos inconfessáveis. Eles vão te levar pra longe, pra dentro da imensidão de tudo o que teme. E eu só quero que traga de lá o seu medo de ter medo e o de nunca arriscar.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Chérie bien aimé

Ela vinha carregando as sacolas pela rua, com o olhar perdido e ares de felicidade. Passos que por bem pouco não pareciam pequenos saltos de alegria. Abriu o portão do condomínio e cumprimentou uma velhinha sorridente que caminhava por ali. Entrou no prédio, ganhou as escadas e seguiu até o fim do corredor. Apoiou as sacolas no chão e começou a procurou as chaves do apartamento.
Quando a porta se abriu, não tinha quase nada pra ver. Um grande colchão de ar, muitas caixas espalhadas, notebook, televisão, som e discos. Ela passou direto pela sala e deixou as compras na cozinha. Logo no corredor, começou a arrancar as peças de roupa do corpo e foi largando pelo caminho até o banheiro. E não pode conter a gargalhada quando percebeu que estava realizando um pequeno sonho. Ligou o som e acompanhou a canção em voz alta... “Here I am and I stand so tall, just the way I’m supposed to be.” Foi até o banheiro tomar banho com as portas abertas.
Saiu de lá em vinte minutos, vestiu algo confortável e só então foi pensar nas sacolas em cima da pia. Guardou algumas coisas na geladeira e preparou café fresco.
Apanhou um livro no chão, se deitou no colchão e começou a ler: “Se pode me prometer algo prometa que... sempre que você se sentir triste ou insegura... ou que sua fé vacilar... você vai tentar olhar pra si mesma com meus olhos. Obrigado pela honra de tê-la como esposa. Não tenho do que lamentar. Tenho muita sorte. Você foi minha vida, mas eu sou apenas um capítulo da sua. Haverá mais. Eu prometo...”. O resto da página se perdeu num sonho confuso.
Caminhava em direção à porta e quando passava por ela, sentia areia fina nos pés. O corredor era substituído por uma imensidão de água do mar, avermelhada pelo sol que se punha à frente. Ela se sentou pra observar o brilho na superfície da água pensando que aquele não era um sonho pra se ter sozinha. E como se alguém ouvisse esse pensamento, veio a menina de cabelos curtos caminhando com um sorriso em sua direção. Pronto! O sonho piegas perfeito. Mas antes que elas se encontrassem, o sonho foi interrompido por uma nota um pouco mais alta de alguém que cantava pras paredes da sala.
Sorriu, passou a mão nos cabelos e correu os olhos pelo bagunça que ela mesma fizera. Aquele lugar, aquelas caixas, espaço e tempo eram seu maior sonho real. Mas esse também era um sonho pra não se ter sozinha, pena que acordada seu pensamento não tivesse poder de realizar certos desejos.
Apanhou o computador e escreveu: “Quanto tempo sem te ver... Acabei de sonhar com você outra vez. Tô deitada na sala do apartamento novo agora. Isso aqui ta a maior bagunça rs. No final das contas eu não sei mesmo me virar sozinha... Tá faltando a sua paz pra me acompanhar...” E enviou. Não tinha nada pra perder mesmo. Quem sabe o mar adentrava a porta da sala.